"Já se passaram mais de 40 anos, mas parece que foi ontem. Lembro quando ainda jovem desci daquele ônibus que me trouxe do centro de São Leopoldo com destino à Feitoria Velha. Tudo era novidade, não só a paisagem e o ambiente, mas a experiência que iria viver na vida, porque, além de ser a primeira vez que estava saindo de casa, imaginem estudar em um colégio interno, por conta e risco.

Lá estava ele, aquele prédio, para a época, todo pomposo, dois andares, cheio de janelas, se não estou enganado, de cor amarela. Puxa, super legal. Mas vamos ao que interessa.

Tinha saído de minha terra natal para fazer o exame de seleção para ingresso no Colégio Agrícola Visconde de São Leopoldo, isso mesmo o “PATROPI”. Lembro bem, era um domingo ensolarado, muito quente, se não me engano mês de fevereiro, ano 1968. Fui recepcionado pelo Sr. Fritz, funcionário da escola, que no momento era um anônimo, mas que depois, com o passar do tempo, se tornou um amigo e orientador.

Encaminhado ao alojamento. Nossa! Que surpresa. Não sei quantos, mas acredito que mais de uns 100 beliches. Ai seria o novo lar pelos próximos anos. Vou fazer uma confissão: sabem, não gostei muito não, tudo meio sujo e bagunçado, mas, vamos em frente.

No outro dia, cedinho, o “sino” tocou, para anunciar que o café estava pronto e que tínhamos de nos arrumar rapidinho para o início da jornada. Outra surpresa. Sim, descemos ao banheiro para fazer a higiene e me deparei com um banheiro sem vidros, sem chuveiros, só os canos. Difícil acreditar, não?

Muito bem, café tomado, descemos para as salas de aula, e qual nossa surpresa: não seria realizado o exame de seleção para ingresso ao Colégio, porque o numero de inscritos era inferior ao número de vagas oferecidas.

Viva, estamos dentro.

Bem, esse foi o início de minha jornada no “PATROPI”. Foram quatro anos vivendo no colégio. No primeiro ano ficamos em uma casa perto do cemitério. Tinha que passar toda noite pelo mesmo, sabe como é, o medo corria solto. Depois, consegui uma vaga numa casinha que tinha ao lado da horta, já dentro do perímetro da escola. Meu primeiro ano até foi bem legal, tinha uma certa privacidade.

No segundo ano, consegui uma vaga no alojamento, puxa que alegria, iria conviver com todos e seria uma nova experiência para mim. E olha só que experiência.

Foi assim que comecei a participar mais ativamente das atividades do alojamento coletivo. Pessoas de muitas regiões do nosso estado e também de outros. Muito bom porque ali podíamos trocar culturas mais intensamente e conhecer melhor nossos companheiros.

Histórias teria muitas para contar, mas acredito que não vêm ao caso. Vou citar apenas uma: nas noites enluaradas o assalto aos pomares dos vizinhos do colégio, para surrupiarmos algumas laranjas e bergamotas, que além de nos alimentar, também serviam de munição à noite para guerrilhas no alojamento. Saudades desse tempo.

Foi assim, meus amigos, que os anos foram passando e fomos adquirindo novas experiências estudantis e de vida. Novos amigos, professores que se preocupavam com o bem estar de todos e com o nosso desenvolvimento intelectual.

Todos os anos novas pessoas adentravam na escola e com elas novas histórias e novos relacionamentos que nos engrandeciam.

E assim, meus amigos, quando vimos estávamos com o canudo nas mãos, e teríamos de deixar tudo para trás, levaríamos apenas o que aprendemos e nossas lembranças.

Mas faço uma declaração sincera e do fundo do coração, as coisas que aprendi no “PATROPI” e as amizades que fiz durante o período que permaneci nesse estabelecimento de ensino, até hoje ainda me são úteis.

Não cito nomes das pessoas com quem estive nesse período de tempo que me foi excepcional, apenas digo, do fundo de meu coração, MUITO OBRIGADO, pois quem sabe hoje sou o que sou devido a uma grande parcela do que lá aprendi".

(Texto de Luiz Carlos Costanzi, Turma de 1972, em: TREMARIM, Antônio Cladir; COELHO, Carlos Dinarte; ROSTIROLLA, Flávio Luís; DALPIAZ RECH, Luiz Roberto; 68 anos Escola Agrícola Visconde de São LeopoldoImprensa Livre; Porto Alegre, RS; 2012; pág.121).